HISTÒRIA DE NOVELAS
Abílio Pinto Soares Miranda, nasceu a 24 de
Dezembro de 1893, na cidade de Penafiel, e nesta cidade faleceu a 31 de Maio de
1962.
Foi fundador da revista “PENHA FIDELIS”,
editada nos anos de 1927 a 1929, tendo sido publicados 14 números, esta revista
é hoje considerada uma relíquia da escrita Penafidelense.
Escreveu muitos artigos no Jornal “O PENAFIDELENSE“,
sobre a história de Penafiel e suas freguesias.
Pública neste jornal, nos dias 18 e 25 de Janeiro, 1, 8, e 15 de Fevereiro de 1938, a história da
FREGUESIA DE NOVELAS
HONRA DA FAMÍLIA DE SOUSA
Um distinto
filho da freguesia de Novelas pede-me para escrever alguma coisa a respeito
desta freguesia.
Eu acedo ao pedido, porque, além
de pretender agradar ao meu amigo que m´o fez, aproveito a ocasião para
publicar uma numerosa e interessante colecção de documentos, na sua maioria
inéditos, e que eu julgo deverem passar à publicidade da letra de forma.
Advirto que não respeito ortografias, excepto nos casos em que os textos
ofereçam dúvidas de interpretação, pois isso me obrigaria a perder tempo, de
que não posso dispor com sucessivas e aturadas revisões.
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No arquivo do mosteiro de Bostelo existiu um pergaminho - documento da união dos fruto, réditos e emolumentos das igrejas de S. Salvador de Novelas, S. Pedro de Croca (a) Santa Marta e S. Martinho de Milhundos (b) feito pelo bispo do Porto, D. Vicente, declarando que fossem estas freguesias governadas pelo capelão, ou capelães do mosteiro referido e que o mesmo pagasse os direitos que pagavam à Catedral. Era datada a bula (c) 4.º Idus Februarii da era 1334 (ano de Cristo de 1.296).
«Tab. da
cidade do Porto Pedro de Salamanca, que pôs seu sinal publico. Selo pendente do
Bispo em cera vermelha, de figura semi-oval, passado por cordoes vermelhos;
representa o bispo no plano, lançando a benção, em vestes pontificas, com a
direita, bago na esquerda, mitra na cabeça, metido dentro dum nicho; na orla
deste plano se divisam as palavras Vincentii
duma parte, e, da outra Portucallensis.
É contraselado nas costas com um pequeno sinete, que representa a cabeça dum
César com letras em volta mas já amortigadas.
Pergaminho Latino».
Era, portanto,
a freguesia de Novelas anexa ao couto de Bostelo.
Qual seria a
razão?
Frei Meireles,
na sua memoria II. - «Prelados perpétuos de Bostelo» (M. S.) referindo-se ao
prelado Pedro, diz o seguinte:
«Um único
documento nos conservou a sua memoria. É a doação da 3.ª parte da igreja de
Novelas, feita por D. Guiomar de Mendo, filha do conde D. Mendo (chamado o
Souzão) sob condição de o possuir em sua vida Pedro de Pedro, súbdito de Pedro,
abade de Bostelo, pagando anualmente ao convento um sexteiro de trigo, e outro
de vinho, e dez pexotas para fazerem por D. João de Pedro um aniversario
perpetuo, no dia em que faleceu, e no caso que sobreviva aquêle prelado ao
monge seu súbdito a disfrutará vitaliciamente dando ao convento aquela renda, e
falecendo a doadora, ficará obrigado o mosteiro a outro aniversário por sua
alma, no dia da sua morte. Declara aquéla senhora que os frutos da Igreja se
gastem a metade no dia da morte de D. João, e a outra metade no dia de seu
falecimento enquanto durar o mundo, e nesses dias cantem todos os monges missas
pela alma de cada um. É datada no mês de Fevereiro da era mil duzentos e
setenta e (um sinal parecido com um y) que me parece ser 1272, e não 1275,
posto que a ultima letra numeral arremeda um V de figura caprichosa. Confirma a
doação, o seu casamento com D. João Pires da Maia, segundo D. António Caetano
no tomo XII, parte primeira da «Historia Genealógica» e o livro velho de
linhagens posto que não dê a D. João o nome de marido em todo o texto dela, nem
fale nas três filhas que lhe ficaram, Maria Anes, Elvira Anes, e Tereza Anes,
mas bastariam, alem do sobredito, a constituir-nos numa quasi certeza as
palavras pro remissione omnium pecatorum
memorum et Domni Johanis, que indicam bem a conjugal afeição, visto não ter
irmãos ou parentes com aquêle nome que a movessem a dar um testemunho tao
publico do interessa da salvação de D. João, sem riscos da decência
indispensável numa senhora».
Na Memória V,
de Fr. Meireles referente às igrejas do padroado do Mosteiro de Bustelo (d) na
parte que trata da freguesia de que me estou ocupando diz o seguinte:
«Doou uma
terça do padroado desta paróquia D. Guiomar de Mendo filha do conde D. Mendo, o
Souzão, viúva de D. João Pires da Maia. Expressa na doação que dispendam os
monges a metade dos frutos daquela terça no dia em que fizerem o aniversário
por D. João, e outra metade no dia do aniversário do seu falecimento por cujo
trabalho deixou á mesa conventual a pitansa anual dum sesteiro de trigo, outro de vinho, 10 pescotas. Mas como dispenderam os monges os aquela renda? Não o
declara, mas bem se entende que em esmolas por tensão dambos os consortes. Não aparece no arquivo a doação, ou
doações, das duas terças restantes.
D. António de
Azevêdo, comendatário de Bustelo, sem
licença do convento apresentou em Amador Pinto, que obteve bulas para ser
confirmado sem expor que era simples curato do Mosteiro, a igreja de Novelas.
Fizeram os monges petição e manifestaram ao Papa o dolo, e injustiça deste procedimento.
Julgaram-se nulas como obreptícias e subrepticias, por sentença de Francisco
Pegna, auditor da rota, datada em Roma no ano de 1599 a 7 de Julho, indecção
12.ª ano 8.º do pontificado de Clemente 8.º depois de se expedirem para o reino
Cartas inhibitórias para suspender-se a decisão da sua validade, ou nulidade,
datadas em 10 de Julho de 1598; consta delas que o bispo do Pôrto D. Jerónimo
de Menezes litigara com a nova Congregação pretendendo visitar o Mosteiro de Bustelo, e apresentar abades, ou priores
no de Cucujains, motivos porque foi
dado de suspeita na Cúria, onde residia como procurador da ordem o P.ª Fr.
Mancio dos Martires. Em 5 de Março de 1600, 9.º ano do pontificado do mesmo
Clemente 8.º expediu Garcia Milino, outro sim auditor da Rota carta executorial para ser expedido e despojado do beneficio,
Amador Pinto, e tomar pósse dêle actual, e corporal o D. Abade e proceder a
provimento da igreja em cura amovível ad
nutum, restituindo-o ao antigo uso, e direito. De pouco valeram as forças
morais para expelir o teimoso, e renitente vigário. Aplicaram-se-lhe as
físicas, auxiliares da igreja, e por um acordam da Relação do Porto, de 26 de
setembro foi expulso, enfim, e tomou posse o D. Abade Fr. António Barbosa em 4
de outubro de 1600. Em atenção a que o rio Souza engrossa a sua corrente
repetidas vezes no mez de dezembro, é dispensado o cura e fregueses de Novelas
de ouvir missa, e assistir aos ofícios Divinos do Natal, na matriz do Mosteiro.
É obrigado, porém, assim como os das outras anexas, a concorrer a ela com suas
ovelhas, nos dias de Pás coa, Espirito Santo, etc, não só pelas determinações
antigas do ordinário, mas particularmente pelas sentenças, apontadas à margem.
Como por determinações da nova congregação de S. Bento foram unidos seus frutos à área dela, apenas encontro neste arquivo duas escrituras de arrendamento. Uma que teve principio em 1653, e acabou em 1656, pela qual se obrigou o rendeiro à solução anual de 128.500, além dos encargos velhos. Outra começou a ter vigor no S. João de 56 e finalizou em 1559, por força da qual pagava anualmente António de Souza 130.000 reis, e os encargos do costume. Assim como as outras anexas de Santa Marta, e S. Pedro de Croca, não paga sinodático. É sujeita ao vigário da matriz no que respeita à celebração de Festividades, escolha de oradores, e assistência pessoal aos Divinos Ofícios nos quais trazem os procuradores das anexas o rol paroquial para inquirir poe êle se estão presentes, ou não, neste caso tem direito de os condenar. No que respeita povoação, eis aqui os apontamentos dos escritores referidos, e o resultado do meu exame. Em 1623 tinha a freguesia de Novelas 173 pessoas de comunhão, e 41 menores; em 1706 tinha 86 visinhos, ou fogos; em 1789 montava a 363 almas e 115 fogos; em 1800 ao numero de 158 homens, e 182 mulheres, que formam o numero de 340 almas, com 120 fogos. Em quanto aos nascimentos, eis o que consta do livro competente: Nasceram no ano de 1781, seis meninos e 11 meninas; no ano de 1786 viram aluz do mundo 5 varões e 3 femeas; no de 1791 seis machos e 7 femeas; em 1796 nasceram 11 meninas e 3 meninos. Finalmente em 1800 somente 3 varões e seis fêmeas.
Frei Meireles
nas suas Memórias do Mosteiro de S. Miguel de Bostelo chama a êste D. Abade
Domingos Domingues fazendo longas referencias ao seu governo.
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A freguesia de Novelas apesar de doirada de tradições de antiguidade histórica e de nobresa, éra, todavia, pobre, como se verifica por um contrato celebrado pelo D. Abade do Mosteiro de Bostelo e curas das igrejas anexas, a qual se obrigou a de S. Pedro de roca à fabrica e reparo das casas de residência por exceder a quantia de 50.000 reis a renda anual, e ser o mosteiro somente obrigado a concorrer para as obras da capela mór, e culto Divino. Por êste mesmo contrato foram desobrigados os curas de S. Salvador de Novelas, Santa Marta, de S. Martinho de Milhundos, da fabrica sobredita (do mesmo encargo) por não chegarem os seus benezes (rendimento da igreja) à quantia mencionada.
É datado este
contrato de 11 de Junho de 1749.
Foi escrito
pelo tabelião do público judicial e notas
no concelho de Penafiel e seus coutos e na vila (e) de Arrifana.
A questão com
o teimoso Amador Pinto deu que falar
deixando grande rasto de documentações que não transcrevo por ser muito prolixa
e sem interesse histórico especial. Numa petição feita ao Papa e da sentença do
auditor acima referido é passada por Vilkelmo Dunoset, auditor da rota
pontifícia em 11 de Junho, do ano de 1613, indicção 11.ª e 9.º ano do
pontificado de Paulo V.
Este
documento, em papel, tem a data escrita deste modo = mil IIII. LXXXX. VII =
Não sei se
ainda hoje existe algum marco divisório desta demarcação.
É datada de 28
de Novembro de 1567.
É datada de 8
de Novembro de 1575.
É datada de 31
de julho de 1765. Ainda hoje há na freguesia de Bitarães uma família de apelido
Camêlo.
O Ex.mo Snr.
T.e Coronel A. Strecht de Vasconcelos no «Povo de Penafiel» de 4 de julho do
ano findo diz:
Eu devo
esclarecer o seguinte:
Não tenho á
mão elementos de consulta que me autorizem a dizer desde quando data no nosso
paíz o vinculo de família, mas o que posso afirmar é que é relativamente
moderno, poiss não se lê tal palavra em documentos mediavais.
Havia, sim, a
avoenga que consistia em bens privilegiados de família e que não podiam ser
alienados sem consentimento de toda a família ou sem consentimento da família a
quem os mesmos diziam respeito e assim se verifica que nos contractos de
alienação desses bens assinam os pais, filhos e irmãos.
Pelos
documentos que publicarei no decorrer deste trabalho, parece-me que deixarei o
assunto arrumado, e sem ninguém poder duvidar que, de facto, foi o rio que deu
o nome á nobilíssima família Sousa, junto déle estabelecida.
É necessário
notar que, no tempo de rigorosos patronímicos, as alcunhas eram muito usadas
para se distinguirem entre si, os membros duma família numerosa: - O Souzão – O
velho, ou o representante directo da família = Os de Souza – da família do
Souza, etc.
Á medida que
os de Souza iam partindo daqui, davam
este nome às localidades onde se estabeleciam. Se Arrifana de Souza assim se
chamava, não era devido a ser banhada pelo rio deste nome, com diz o sr. Padre
Aguiar no seu relatório, editado pela Câmara Municipal; pois, como toda a gente
sabe, o rio passa-lhe muito longe, mas porque aqui se estabeleceu um dos de
Souza.
Desta alcunha
de família, que depois passou a apelido, derivam toponímicos:
Chousas,
Chausa, Suzela, Souzela, Souzão, etc.
A pesar de não
haver no mosteiro de Bostelo documento algum, pelo qual se soubesse como
adquiriu o referido mosteiro os dois terços restantes do padroado da igreja de
S. Salvador de Novelas, posso afirmar, sem receio de desmentido, que lhe foram
dados por membros da família Souza, pois esta nobílissima família era daqui, e,
desde muito remotos tempos, senhora
destas terras, como se verá:
Na era 1409,
(data por extenso) ano de Cristo de 1371, vendeu Martim Peres, por 64 libras,
incluindo a revora, umas herdades, sitas em Vilar e no Campo, no julgado de
Louzada e Honra de Novelas, a João
Peres de Sequeiros.
Tabalião de
Louzada, por El-Rei, Martim Martins – Pena de infracção, 100 maravedis velhos,
etc.
Frei Meireles,
num aditamento a uma das suas memórias, aqui já largamente citadas, referindo-se
a este documento, diz o seguinte:
«Foi datada
nesta era, (1409), a 30 de maio, uma carta de venda de várias herdades, sitas
em Vilar, e no Campo, e diz o pergaminho que pertencia á Honra de Novelas; como não me lembro de encontrar em algum outro
documento a Honra, de que falo, não quero perder êste conhecimento para
justificar D. António Caetano de Souza, o qual aponta no tomo 12, parte
primeira a pag. 227, a esta freguesia como honrada, e pertencente em outros
séculos á ilustríssima casa dos Souzas ainda antes da existência da Monarquia;
não posso informar em que tempo, que monarca a descontou, e devassou: o
pergaminho foi escrito por Martim Martins, tabelião de Louzada, posto por
El-Rei, circunstancia que não prova ser já então devassada, tendo visto algumas
doações regias, nas quais é ressalvado aos tabeliães dos julgados, e concelhos,
o exercer seus ofícios nos coutos e Honras encravados no território daqueles;
no praso que fez o mosteiro em julho da era 1429, e nos posteriores a essa
época, posto que de terras situadas na mesma freguesia, não é apontada já como
Honra».
Posso concluir
que a honra de Novelas foi devassada pelo rei, depois de completamente doado o
seu padroado e benesses ao mosteiro de Bostelo, e do abandono da família Souza,
que se deslocou duma terra, que principiava nessas épocas a tornar-se inhóspita
para pessoas de tam elevada categoria.
Pelos
documentos transcritos não pode haver a mais leve dúvida de que,
primitivamente, esteve aqui estabelecida esta família e de que foi o rio, que
aí passa, que deu o apelido á família.
Se eu tiver
saúde, a seu tempo, este assunto esclarecer-se-á perante a grande documentação
que possuo e que irei publicando em ocasião oportuna.
A igreja nada
tem de antigo, o que mostra que foi, pelo menos, completamente reconstituída.
Existe na
partilha desta freguesia com a de Bostelo o logar das Chousas, que deve ser
corrupção dos Souzas.
Segundo vários
autores que se referem a esta obra, dizem-na cheia de erros e sem critica (Dr.
António de Almeida – memórias da Academia – e Simão R. Ferreira); mas a verdade
é que muito gostaria de a ver este trabalho; pois, se era ilustrado, daria uma
ideia da topografia de Arrifana nessa época.
O bom do cura
teve a pachorra de escrever e ilustrar vários volumes, mas nunca consegui ver
nenhum, embora os tenha procurado em todo o pais!
Há anos li num
trabalho respeitante à biblioteca do Porto uma referencia á obra citada, como
se aí existisse; mas procurada em todos os catálogos, antigos e modernos, não
foi encontrada.
Confesso que,
se o progresso da freguesia de Novelas me faz rejubilar a alma de
penafidelense, não me interessa, porem, descrevê-lo, por não ser este o meu
objectivo.
Deixo isso aos
que viverem atrás de mim.
(b) Nos
remotos documentos lê-se Molhudos, Melhudos ou Moludos.
(c) Parece-me
que a denominação de bula, neste caso, não será muito própria, mas é como se
encontra no documento.
(d) Nos
tempos medievais tanto se escrevia Bustelo como Bostelo, mas por rasões já por
mim largamente expostas em vários escritos, deve escrever-se Bostelo.
(e) Frei
Gil de S. Bento, num M. S. citado nas memorias da Academia, diz, que se
encontravam no cartório do mosteiro de Bostelo, documentos que denominavam de vila Arrifana de Souza, antes desta
povoação ser elevada a tal categoria. Parece-me não ser isto verdadeiro. Em
velhos tempos chama-se burgo ou logar.
A denominação
de vila em tempos medievos
empregava-se, sobretudo, em casais e não em povoações.
Nos dias andados dum mês nunca era contado o
dia em que se fazia o documento.
Por exemplo:
estando eu a escrever estas notas no dia 12 de fevereiro, faço-o a 11 dias
andados deste mês; se as escrevesse, porem, no dia 20, fá-lo-ia a 8 dias por andar do referido mês de fevereiro,
pois faltariam 8 dias para este terminar.
Abílio Miranda
Novelas, maio 2010
jornalagalga@gmail.com
Joaquim pinto mendes
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